quinta-feira, 17 de maio de 2007

Gostava Tanto de Você
Edson Trindade

No final dos anos cinqüenta havia na Tijuca (bairro do Rio), mais precisamente na Rua do Matoso, um grupo de rapazes que adorava rock and roll, a grande novidade musical da época. Desse grupo nasceria o conjunto The Snacks depois chamado de The Sputnicks, ponto de partida para o estrelato dos futuros ídolos Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Tim Maia. Completavam The Snacks – nome inspirado pelo Snack Bar, local de reunião de lambretistas, em Copacabana – os jovens China, Arlênio e Edson Trindade, autor de “Gostava Tanto de Você”. Com uma letrinha romântica, bem lugar-comum (“Nem sei por que você se foi/ quantas saudades eu senti/ quantas tristezas vou viver/ e aquele adeus não pude dar...”), a composição deve muito de seu êxito à feição que lhe imprimiu Tim Maia, tornando-a uma autêntica precursora do chamado samba-funk. Embora só viesse a ser gravada em 1973, “Gostava Tanto de Você” “é do tempo da turma da rua do Matoso”, assegura Marlene Gomes de Almeida que conviveu com o grupo e foi a primeira namorada de Tim Maia. De comportamento irreverente como o do amigo Tim, Trindade morreu em 05.02.93.
Fonte: A Canção no Tempo
Jairo Severiano e Zuza Homen de Mello
Só Quero um Xodó
Dominguinhos e Anastácia.

Na retomada da carreira, após o exílio londrino, Gilberto Gil incluiria em seu repertório algumas músicas de autores nordestinos cultuados pelo gosto popular. Gravaria assim o excelente “Só Quero um Xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, xote que o traria de volta aos primeiros postos das paradas de sucesso, depois de quatro anos. Esta composição nasceu em plena Rua Amaral Gurgel em São Paulo, quando, caminhando com sua então mulher Anastácia, Dominguinhos começou a assoviar uma melodia que lhe veio à cabeça. Ao chegarem em casa, só estava faltando a letra que Anastácia escreveu em poucos minutos: “Que falta eu sinto de um bem/ que falta me faz um xodó/ mas como eu não tenho ninguém/ eu levo a vida assim tão só...” Então, “Só Quero um Xodó” foi gravado pela cantora nordestina Marines, com a introdução definitiva, composta no estúdio, mas com andamento apressado de um arrasta-pé. Descoberto por Gilberto Gil nos ensaios para o show do Midem, em Cannes, em que cantou com Gal e Dominguinhos, “Só Quero um Xodó” seria por ele relançado num ritmo de xote, mais lento, com sua voz cantando na introdução, junto à sanfona, sílabas semelhantes a sons de idiomas africanos (a-sá-rá-iê...). As repetições dessa introdução como uns interlúdios, após cada volta, produziram um efeito original e atraente, valorizado pelas melodiosas intervenções da sanfona de Dominguinhos. Na verdade, Gil fez render ao máximo a simplicidade rústica da composição, com sua habitual competência para entender e enriquecer músicas alheias (do que também é exemplo “Não Chore Mais [No Woman, No Cry]”, em 1979). Editado num compacto, juntamente com o samba “Meio de Campo”, dedicado ao jogador Afonsinho, “Só Quero um Xodó” alcançaria o sucesso três meses depois. Quando passou a ser “música de trabalho” nas emissoras de rádio. No mesmo clima, Gilberto Gil gravaria “Tenho Sede” (Dominguinhos e Anastácia) e “Lamento Sertanejo” (letra sua sobre melodia de Dominguinhos feita em 1967), faixas do álbum Refazenda, em 1975.
Fonte: A Cançao no Tempo
Jairo Severiano e Zuza Homem deMello

Foi um Rio que Passou em Minha Vida (samba)
Paulinho da Viola.

A história de “Foi um Rio que Passou em Minha Vida” tem muito a ver com a de outro samba famoso, “Sei Lá Mangueira”, musicado por Paulinho da Viola que, para amaciar corações portelenses magoados com a sua homenagem à escola rival, compôs este canto de amor e fidelidade à sua querida Portela: “Ah, minha Portela/ quando vi você passar/ senti meu coração apressado/ todo meu corpo tomado/ minha alegria voltar/ não posso definir aquele azul/ não era do céu/ não era do mar/ foi um rio que passou em minha vida/ e o meu coração se deixou levar.” Um dos mais talentosos integrantes da geração de sambistas revelada, como foi dito, nos anos sessenta, Paulinho da Viola recebeu influencias diretas de compositores tradicionais, como Cartola, que desenvolve à sua maneira, modernizando-as sem desfigurá-las. Isso pode ser observado em composições como “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, o samba que consolidou o seu prestígio de cantor e compositor.

Fonte: A Cançaõ no Tempo
Jairo Severiano e Zuza Homen de Mello

terça-feira, 15 de maio de 2007

Yamandú Costa + Dominguinhos CD


Apresentação

Yamandú Costa, maior revelação do violão brasileiro nos últimos anos se une à consagrada sanfona de Dominguinhos Ao reunir Yamandú Costa e Dominguinhos no estúdio para a gravação de um CD, o produtor musical José Milton tinha uma intenção bem definida: deixar os dois músicos tocarem o que tivessem vontade, sem estarem presos ao estilo de um ou de outro. Conseguiu. O gaúcho de Passo Fundo e o pernambucano de Garanhuns, que haviam tocado juntos apenas uma vez, se deram tão bem que até viraram parceiros ali na hora, quando Dominguinhos completou um tema iniciado por Yamandú, ao qual deram o título de Bonitinho. O trabalho se desenrolou de forma tão harmoniosa que foi editado praticamente na ordem em que foi gravado. Cada um escolheu o que gostaria de tocar, ambos conhecendo as harmonias e tessituras de cada música. A única sugestão do produtor foi Molambo (Jayme Florence/Mesquita), que ele sabia que os dois músicos já tinham tocado juntos. O resto do repertório veio na intuição, dentro do estúdio, gêneros variados e compositores mais ainda. Além de composições dos dois músicos, o CD tem também Tom Jobim, Sivuca, Abel Ferreira, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Waldir Azevedo, Pedro Raimundo e Humberto Teixeira, Custódio Mesquita e Sadi Cabral. O CD, que ganhou o nome de Yamandu+Dominguinhos, está sendo lançado pela Biscoito Fino e é o terceiro trabalho de Yamandú na gravadora, e o segundo de Dominguinhos. “Foi Yamandú quem me pediu que falasse com Dominguinhos, já que tinha produzido o CD dele com Sivuca e Oswaldinho”, lembra José Milton. “Quando a gravação acabou, Dominguinhos se mostrou encantado com a química que tinha rolado entre os dois”. Gravado de forma analógica no estúdio Cia. Dos Técnicos, em janeiro de 2007, o CD ficou pronto em cinco dias: “O encontro de dois gênios criadores”, enfatiza José Milton, “em que nenhum quis aparecer mais do que o outro, evitando virtuosismos”. Ficam bem claras no CD as sonoridades gaúcha do violão de Yamandú, e a nordestina da sanfona de Dominguinhos. O sul e o nordeste em perfeita harmonia.

Fonte: BISCOITO FINO