quinta-feira, 17 de maio de 2007

Só Quero um Xodó
Dominguinhos e Anastácia.

Na retomada da carreira, após o exílio londrino, Gilberto Gil incluiria em seu repertório algumas músicas de autores nordestinos cultuados pelo gosto popular. Gravaria assim o excelente “Só Quero um Xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, xote que o traria de volta aos primeiros postos das paradas de sucesso, depois de quatro anos. Esta composição nasceu em plena Rua Amaral Gurgel em São Paulo, quando, caminhando com sua então mulher Anastácia, Dominguinhos começou a assoviar uma melodia que lhe veio à cabeça. Ao chegarem em casa, só estava faltando a letra que Anastácia escreveu em poucos minutos: “Que falta eu sinto de um bem/ que falta me faz um xodó/ mas como eu não tenho ninguém/ eu levo a vida assim tão só...” Então, “Só Quero um Xodó” foi gravado pela cantora nordestina Marines, com a introdução definitiva, composta no estúdio, mas com andamento apressado de um arrasta-pé. Descoberto por Gilberto Gil nos ensaios para o show do Midem, em Cannes, em que cantou com Gal e Dominguinhos, “Só Quero um Xodó” seria por ele relançado num ritmo de xote, mais lento, com sua voz cantando na introdução, junto à sanfona, sílabas semelhantes a sons de idiomas africanos (a-sá-rá-iê...). As repetições dessa introdução como uns interlúdios, após cada volta, produziram um efeito original e atraente, valorizado pelas melodiosas intervenções da sanfona de Dominguinhos. Na verdade, Gil fez render ao máximo a simplicidade rústica da composição, com sua habitual competência para entender e enriquecer músicas alheias (do que também é exemplo “Não Chore Mais [No Woman, No Cry]”, em 1979). Editado num compacto, juntamente com o samba “Meio de Campo”, dedicado ao jogador Afonsinho, “Só Quero um Xodó” alcançaria o sucesso três meses depois. Quando passou a ser “música de trabalho” nas emissoras de rádio. No mesmo clima, Gilberto Gil gravaria “Tenho Sede” (Dominguinhos e Anastácia) e “Lamento Sertanejo” (letra sua sobre melodia de Dominguinhos feita em 1967), faixas do álbum Refazenda, em 1975.
Fonte: A Cançao no Tempo
Jairo Severiano e Zuza Homem deMello

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