segunda-feira, 19 de dezembro de 2005


CD - De uns Tempos pra cá
Chico César

Chico César lança seu primeiro disco pela Biscoito Fino com produção de Lenine e participação de Elba Ramalho e Quinteto da Paraíba.

De uns tempos pra cá me tornei um artista razoavelmente conhecido em alguns circuitos, dentro do meu país e fora dele. À minha revelia, mas também com minha anuência, determinados aspectos da música que faço se tornaram mais visíveis que outros. Não é que eu queira me queixar. Nem poderia, num momento em que uma das principais queixas de muitas pessoas (artistas inclusive) é a invisibilidade. Não de partes. Mas a invisibilidade total delas, e de sua produção. Ser em parte conhecido, visível, ou conhecido em partes já aparenta alguma vantagem. Principalmente quando se tem, quando se criam ou se conquistam as condições de iluminar o que antes já existia mas não podia ser percebido em plenitude. Ou era simplesmente ignorado. É o que acontece comigo agora com o lançamento deste De uns Tempos pra cá, ao qual me entreguei com a alegria e a inquietação que apenas a liberdade criativa possibilita. Retribuí o convite da Biscoito Fino com canções e interpretações estritamente autorais e que só poderiam estar neste disco. Em nenhum outro, apesar das músicas já existirem muito antes que ele fosse imaginado. O desejo de gravá-las neste formato camerístico com o inquieto Quinteto da Paraíba é que norteia o disco. De uns tempos pra cá se passaram 10 anos do Aos Vivos, meu primeiro disco. De uns tempos pra cá já são 20 anos de Sudeste pra mim. Mas mesmo antes disso o disco começa. A canção Utopia, por exemplo, é do princípio dos anos 80. Do meu tempo da faculdade de jornalismo em João Pessoa na Universidade Federal da Paraíba. Época de greves e passeatas. Que eu me lembre é uma espécie de comentário irresignado sobre a não-aprovação das eleições diretas para presidente pelo Congresso Nacional. A melodia de Por Causa de um Ingresso do Festival Matou Roqueira de 15 anos é ainda anterior: de 1983. E o título eu roubei mais tarde de uma manchete do jornal O Dia sobre o primeiro Rock in Rio, ao passar pela capital carioca no começo de 1985. Morava em Barra Mansa e estava a meio caminho para São Paulo. A letra é bem recente, deste ano. Convidei duas importantes e fundamentais influências que a paraibanidade me proporcionou: Elba Ramalho e Pedro Osmar. Ela: musa agreste, retirante, vidente, incômoda em sua nordestinidade. Ele: quase invisível, multiartista a insuflar inquietação e sede de conteporaneidade sem peias a seus pares há três décadas. Pra Cinema é uma melodia do fim dos anos 80. Eu já morava então em São Paulo e estudava na escola do Zimbo Trio, a convite do pianista Amílton Godói. A versão instrumental de Autumm Leaves começou a nascer nessa época, dos estudos com o violonista argentino Conrado Paulino. A letra é de 2004. Passou a se chamar Outono Aqui, por sugestão do cantor paulistano Carlos Fernando, que também corrigiu-me a respeito da excessiva melancolia nordestina em relação ao outono. De uns tempos pra cá tem em comum com outros álbuns meus o fato de que nenhuma canção foi feita para o disco em si. Alcaçuz é de 1998 e já foi gravada por Vânia Abreu. Orangotanga é de 2000 e deu nome a uma turnê européia. Quem faz a percussão aí é meu amigo de infância Escurinho, pernambucano radicado na Paraíba desde criança. Moer Cana, Por que Você não Vem Morar Comigo e a canção-título são de 2003. A canção mais recente é 1 Valsa p/ 3, a única em parceria, com letra minha sobre melodia de Chico Pinheiro. A Nível de, uma das minhas preferidas entre as muitas parcerias de João Bosco e Aldir Blanc, eu já havia gravado pro songbook de João Bosco a convite do saudoso Almir Chediak. Mantive “aquela guitarra” que João gostou tanto e fiz uma nova voz. Proveta e sua turma deram um banho com os únicos metais do disco. E aí está. O ano passado, a TV Educativa do Rio me convidou para cantar Cálice, de Gilberto Gil e Chico Buarque, num show com músicas que tiveram problemas com a censura na época da ditadura militar. Decidi regravá-la. É doloroso perceber que esta canção não perdeu atualidade. Mesmo de tons mais densos, não é de melancolia que quer falar o disco. Mas ela está aí. Pra mim é como se ele começasse escuro, numa sessão maldita de cinema à meia-noite. Atravessa uma longa madrugada, clareia aos poucos e termina encandeado de sol tropical ao meio-dia, numa mistura de feijoada e rave. Claro que não é a única leitura possível, e essa talvez seja otimista demais. É na verdade como ele nasceu em mim e aí tomou corpo, de uns tempos pra cá.

Chico César
Fonte: Biscoito Fino

Sérgio Santos

“Desde muito tempo existe a lenda de que não há renovação na música popular brasileira. De que os grandes autores pararam no tempo, de que não existem mais Jobins, Miltons, Doris, Edus, etc. Pois preparem seus ouvidos que aí está Sérgio Santos”. A cantora e compositora Joyce falou e disse. Sérgio Santos está aí para provar que a MPB está se renovando, e com altíssima qualidade.Mineiro de Varginha, Sérgio começou sua carreira musical participando como cantor do espetáculo Missa dos Quilombos, de Milton Nascimento, em 1982. A partir daí aprofundou seus conhecimentos musicais como violonista, intérprete, arranjador e compositor. Venceu alguns dos mais importantes festivais de música do Brasil até que, em 1991, conheceu aquele que se tornaria seu grande parceiro – o poeta Paulo Cesar Pinheiro – com quem compôs cerca de 180 músicas. Obra esta que já foi cantada por Milton Nascimento, Leila Pinheiro, Joyce, Olivia Hime, Sá e Guarabira, entre outros.Em 1996 Sérgio Santos foi indicado ao Prêmio Sharp, maior prêmio da música brasileira, pelo seu primeiro CD Aboio (95). Em 1999 se apresentou no Hollywood Bowl – um dos templos sagrados da música americana – em espetáculo elogiadíssimo pela crítica local. Em 2002, lançou pela Biscoito Fino o CD Áfrico – uma obra-prima da música contemporânea brasileira. Dois anos depois, em 2004, lançou Sérgio Santos, também pela Biscoito Fino, só com composições suas, a maioria em parceria com Paulo César Pinheiro. Uma delas, Paixão Bandida, ganhou um terceiro parceiro, Francis Hime.

Fonte: Biscoito Fino
Mônica Salmaso

Nascida em São Paulo em 1971, Mônica Salmaso começou sua carreira na peça O Concílio do Amor dirigida pelo premiado diretor Gabriel Villela em 1989. Desde então, tem gravado e se apresentado com importantes artistas brasileiros como Paulo Bellinati, Edu Lobo, Eduardo Gudin, José Miguel Wisnik, Marlui Miranda, Guinga, Nelson Ayres e a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, entre outros.Em 1995, gravou o CD Afro Sambas , um duo de voz e violão arranjado e produzido pelo violonista Paulo Bellinati, contendo todos os afro-sambas compostos por Baden Powell e Vinicius de Moraes. Este CD foi relançado em 2000 pelo selo Pau Brasil. Em 1996, gravou com Paulo Bellinati a faixa Felicidade de Tom Jobim e Vinicius de Moraes no CD Song Book de Tom Jobim.Foi indicada para o Prêmio Sharp em 1997 como Revelação na categoria MPB. Lançou, em 1998, seu segundo CD, Trampolim, pelo selo Pau Brasil, com a produção de Rodolfo Stroeter e as participações de Naná Vasconcelos, Toninho Ferragutti e Paulo Bellinati, entre outros. Mônica Salmaso lançou seu primeiro CD pela Biscoito Fino em março de 2004.

Fonte: Biscoito Fino

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Terra
Caetano Veloso

Quando na prisão Caetano recebeu de sua então mulher Dedé a revista Manchete com as primeiras fotografias da terra, tiradas de grande distância, foi tomado de forte emoção, ao mesmo tempo em que refletia sobre a ironia de sua situação, conforme registrou no livro Verdade tropical: “Preso numa cela mínima, Admirava as imagens do planeta inteiro, visto do amplo espaço.” A força daquela impressão determinaria, quase dez anos depois, a feitura de uma canção cuja a letra começa referindo-se ao fato (“Quando eu me encontrava preso”) seguindo-se divagações poéticas sobre a Terra, intercaladas pelo refrão(“Terra,Terra/ por mais distante/ o errante navegante/ quem jamais te esqueceria”) várias vezes repetidos. Os versos finais da composição são cantados sobre uma melodia que, embora diferente, reproduz uma divisão muito próxima à do final da segunda parte de “Você já a Bahia”, de Dorival Caymmi: “...tudo, tudo na Bahia / faz a gente querer bem / a Bahia tem um jeito...” Neste ponto Caymmi arremata: “que nenhuma terra tem”, com a palavra “tem” sobre a tônica, enquanto Caetano retoma o refrão”terra, terra...” Tranqüila faixa de abertura do citado álbum Muito, “Terra” é uma das melhores canções de Caetano no final dos anos setenta.

FONTE: A Canção no Tempo de Jairo Severiano & Zuza Homem de Mello.

Faça o seu jogo
Lô Borges – Márcio Borges
Canta: 14 BIS

Jogue sua vida na estrada
Como quem não quer fazer nada
Ouça bem as vozes do mato
Como quem abriu o seu coração.

Eu sonhei outro mundo, meu amor
E a paz morava na nossa casa
Mil pessoas como nós
Sem palavras por viver.

Sonhei que era tempo de reencontrar amigos
Falar do velho tempo morto que passou depressa
Sonhei que amanhã é hora de você jogar.

Jogue sua vida na estrada
Como quem não quer fazer nada
Ouça bem as vozes do mato
Como quem abriu o seu coração
.

Samba do Avião
Tom Jobim

Por toda a vida, Tom Jobim conservou um medo enorme de avião. Em sua primeira viagem para Nova York, por exemplo, o embarque teve lances de dramática indecisão, só se realizando depois que o amigo Fernando Sabino o convenceu de que o avião não iria cair. Sentia assim o maestro uma sensação de alivio nos momentos de chagada, quando sabia que em poucos minutos estaria são e salvo, pisando em terra firme. Toda essa alegria ele procurou transmitir no “Samba do Avião” em que, além de descrever a aterrissagem no aeroporto do Galeão, faz uma singela declaração de amor ao Rio de Janeiro – “Este samba é só porque / Rio eu gosto de você”. Como não poderia deixar de ser, a canção descreve a paisagem vista de cima, contrastando com outros postais musicais cariocas. Com numerosa discografia nacional e internacional, “Samba do Avião” tornou-se um clássico da MPB.

FONTE: A Canção no Tempo de Jairo Severiano & Zuza Homem de Mello.