segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Terra
Caetano Veloso

Quando na prisão Caetano recebeu de sua então mulher Dedé a revista Manchete com as primeiras fotografias da terra, tiradas de grande distância, foi tomado de forte emoção, ao mesmo tempo em que refletia sobre a ironia de sua situação, conforme registrou no livro Verdade tropical: “Preso numa cela mínima, Admirava as imagens do planeta inteiro, visto do amplo espaço.” A força daquela impressão determinaria, quase dez anos depois, a feitura de uma canção cuja a letra começa referindo-se ao fato (“Quando eu me encontrava preso”) seguindo-se divagações poéticas sobre a Terra, intercaladas pelo refrão(“Terra,Terra/ por mais distante/ o errante navegante/ quem jamais te esqueceria”) várias vezes repetidos. Os versos finais da composição são cantados sobre uma melodia que, embora diferente, reproduz uma divisão muito próxima à do final da segunda parte de “Você já a Bahia”, de Dorival Caymmi: “...tudo, tudo na Bahia / faz a gente querer bem / a Bahia tem um jeito...” Neste ponto Caymmi arremata: “que nenhuma terra tem”, com a palavra “tem” sobre a tônica, enquanto Caetano retoma o refrão”terra, terra...” Tranqüila faixa de abertura do citado álbum Muito, “Terra” é uma das melhores canções de Caetano no final dos anos setenta.

FONTE: A Canção no Tempo de Jairo Severiano & Zuza Homem de Mello.

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